Talento

maio 31st, 2012 | 0 comments

Não se deve desperdiçar o talento das pessoas…

Cada um tem os seus talentos. Os que acham que não são talentosos, ainda não se conheceram mais a fundo.

Pensar em desperdiçar talento deve soar mal para qualquer um. Me pergunto porque, mesmo com esse peso, nós vivemos nossas vidas ignorando os talentos das pessoas ao redor. E o campo de trabalho, onde o talento é tão urgente, eu passo nas mãos de vários superiores e, em todo canto, vejo desatenção ao talento dos funcionários.

É desatenção! Ou má vontade de investigar, desinteresse pelo assunto.

Aos poucos percebi que o talento não existe apenas no futebol. Há os talentos artísticos, lógicos, intelectuais, intra e interpessoais, tantos quanto as inteligências múltiplas de Howard Gardner, e destro de cada uma, vários subtipos de talentos, alguns meros detalhes que mal conseguimos perceber com esforço.

Pois bem! Ando pensando num projeto de uma gincana para a escola, que funcione como um show de talentos, com a direção sempre pedagógica, pedindo licença gentilmente ao lazer (não acho que a escola deva ser local para lazer, pelo menos primariamente).

Não deve ser tratada como perda de tempo. Uma gincana assim, aliada ao meu outro projeto de utilizar o Guia do Estudante (teste vocacional) para autoconhecimento e orientação para o seu próprio talento, podem mostrar a todos quem são os bons redatores de reportagens, cantores, resolvedores de enigmas e mestres no desenho e na poesia, na ortografia, na velocidade e na flexibilidade, entre outros.

Imagino uma escola onde os alunos descubram suas potencialidades. Senão todos, ao menos alguns deles, pois essa inação, onde os formandos do terceiro ano saem sem saber que rumo tomar, e onde o professor de português não sabe que aquele seu péssimo aluno, é craque em matemática.

Precisamos começar a cultivar o interesse pelos talentos. Será ótimo reunir as pessoas a nossa volta, cada um brilhante no que faz. E, antes, todos precisam de autoconhecimento.

Essa foi uma das contribuições que o livro do Sun Tzu me deu, quando me grudou na memória esse tipo de trecho:

“Os valentes lutam, os cautelosos se defendem e os sábios aconselham. De nenhum se perde o talento”

Cotidiano escolar

março 28th, 2012 | 0 comments

Aula do 6º ano, num primeiro bimestre sem bola:

“Caramba, tô fazendo um monte de coisa que eu nunca fiz na minha vida.”

Não sei o que dizer mas achei muito interessante o comentário dessa aluna.

A melhor aula de 2012 (até aqui)

março 21st, 2012 | 0 comments

Aula do 6º ano. Apenas metade dos alunos com roupas trocadas para a aula na quadra.

Vamos lá, pessoal, hoje faremos atividades de apoio. Alguém consegue alcançar aquele ferro, ali em cima?

A turma olhou e viu que não dava. Ensinei a eles que há como um servir de apoio ao outro, para que ele consiga subir. Chamo de cadeirinha: entrelaçar os dedos para impulsionar o pé do outro para cima.

Quem passava perto da quadra via um professor e 12 alunos atrás do gol, tentando subir numa estrutura metálica. Parecia brincadeira de rua (e era). Algum superior viesse me repreender, mas estava certo do que fazia.

O grupo experimentou a subida.

Próxima atividade: outra cadeirinha? Pois eu também conheço essa por esse nome.

Turma, agora estamos numa praia. Uma pessoa entrou no mar, pisou numa pedra, agora o pé está sangrando e temos que levá-la para o outro lado da areia, para socorro médico. Como faremos?

Deixei-os pensar por uns segundos. Com o vácuo de ideias, mostrei o movimento dos braços, sem precisar dizer qualquer palavra. Duas pessoas dão os braços para a terceira sentar e ser transportada. Mais uma vez, foi um sucesso de participação. Desta vez, nem queriam mudar mais parar.

Próxima atividade: carrinho de mão. Esta muitos conhecem e pouca explicação foi dada.

A esta altura, os alunos já estavam cansados. Expliquei que aquelas eram atividades de força, que ia mesmo cansar. Mas partimos para a próxima: Pirâmide humana.

Alunos de 6º ano fazendo pirâmide humana? Este professor só pode estar louco! Quer mandar os alunos para um hospital…

O termo assusta, mas esta é uma atividade que pode ser bem simples. Por exemplo, nossa tarefa foi uma pirâmide de dois andares, onde, em cada dupla, um ficava no chão e o outro subia em suas costas (costas, não pescoço), então dariam as mãos aos outros e fechariam um círculo de dois andares.

Houve mais diversão do que dificuldade.

Quinta atividade: Escrever palavras com o corpo (em pé). Após mais uma pausa para a água, ainda não era uma hora de aula e dividimos o grupo dos meninos, para formar a palavra PARA, dos das meninas, para a palavra RAIO. E aí a dúvida: O acordo ortográfico alterou esta palavra?

Bem, seguimos a palavra antiga (e parece que está mesmo correta). Em dez minutos, estava lá a palavra formada. Meus jurados (quatro alunos que não trocaram a roupa) decidiram que a palavra estava bem “escrita”.

Sobrou tempo! Escolhi uma das atividades do próximo tema, a cooperação, e fomos correr um pouco: pique pega corrente. Regra principal: a corrente partida não poderá pegar nenhum dos fugitivos. Assim, ou eles coordenam seus movimentos, ou a corrente irá se partir a todo momento.

Assim, de três em três minutos fazíamos uma reunião de corrente (só a corrente participava dela). Lá eu os ajudava a pensar em estratégias para pegar mais rapidamente os demais. Para minha surpresa, não só foi um sucesso como não queriam mais parar de discutir estratégias.

A corrente foi melhorando, então comecei a fazer também a reunião dos fugitivos, para eles também pensarem um pouco em como fugir melhor da corrente. Ainda dei uma dica de ouro: se esconder atrás da corrente.

Enfim, chegou a hora de terminar a aula. E foi a MELHOR aula, assim, em maiúsculas. Surpresa foi a palavra que melhor encontrei para empregar aqui. Quem vê aqueles alunos apáticos, que apenas jogam futebol de calça jeans, evitam trazer roupa para nem fazer a aula, ou aqueles alunos de sexto ano bagunceiros, indisciplinados ou desordenados, desta vez… Será que foi apenas um dia solitário de perfeição?

Desta vez… Foi a aula perfeita.

“A gente enrola”

março 11th, 2012 | 0 comments

Conversa reservada:

“Na verdade, a gente não dá aula, a gente enrola. Você vê: estamos em março, não chegou material, temos uma só quadra para dividir entre os professores, os alunos com preguiça de trocar de roupa e fazer aula… É impossível trabalhar direito assim.”

Obs: nada como em 2010, com quatro professores de Educação Física para dar aula numa mesma manhã.

Cotidiano escolar

março 6th, 2012 | 0 comments

A turma vai subindo para a primeira aula na quadra, deste ano:

— Professor, vai ter futebol hoje?

— Não

— Então nem vou trocar de roupa…

A política na Educação Física escolar

março 6th, 2012 | 0 comments

Política é uma palavra que se refere aos assuntos da cidade: Como pode um “cidadão” detestar os assuntos de sua cidade?

A escola finge ser apolítica, mas quer formar cidadãos. É uma contradição fundamental.

O mundo tenta combater o sedentarismo, busca uma melhor saúde, enquanto a Educação Física escolar segue apolítica, quando temos inúmeros bairros com condições precárias na oferta de espaços gratuitos para o lazer.

Não há parques, praias, ciclovias, lugares bonitos para passear, caminhas, correr, pedalar, nada que tire o cidadão de casa para se movimentar mais.

É contraditório.

Dei uma sugestão para incluir, no currículo mínimo 2012, a discussão de políticas públicas para esporte e lazer. Acabou ficando de fora.

Entro em sala de aula e não há um planejamento para discutir isso com os alunos:

  • Que espaço gratuito a cidade oferece para o combate ao sedentarismo?

Parece pecado a Educação Física tratar de política, dar a consciência ao aluno de sua condição social e de sua força transformadora.

Nesse caso, eu sou um pecador.

 

Piaget na prática

março 2nd, 2012 | 0 comments

Minha filha fez dois anos, em janeiro. De repente, começou a brincar sozinha. Agora há pouco, ela me chamou e disse que estava usando chapéu. Olhei e era uma peça de montar, estilo Lego, mas maior, para crianças pequenas.

Uma peça quadrada, de três centímetros… Virou chapéu!

É incrível como as medidas do Piaget são precisas. No período pré-operatório, de dois a seis anos, a criança entra num mundo de imaginação e fantasia, que pouco se distingue da realidade.

Estou comprovando Piaget na prática.

O profissional de Educação Física

fevereiro 19th, 2012 | 0 comments

Acredito que poucos conhecem realmente a importância de um profissional de Educação Física. Parece ser um trabalho fácil. Vou explicar como não é.

Trabalhamos com a prescrição de atividades físicas. Esta prescrição tem sempre um objetivo, como, entre outros:

  • Divertir
  • Emagrecer
  • Fortalecer
  • Educar comportamentos
  • Aprender técnicas esportivas

Nosso trabalho é utilizar as melhores estratégicas de uso da atividade física, para atingir estes objetivos. Uma escolha errada de atividades e o objetivo não será alcançado.

Assim, o profissional de Educação Física é treinado para conhecer a atividade física, a ponto de saber determinar qual atividade é melhor indicada para cada caso. A partir desse ponto, o leitor já deve concordar com a ideia de que esta é uma tarefa que exige algum preparo.

Vamos, então, aprofundar.

Prescrever atividades para uma pessoa deve considerar a busca pela automatização do movimento, aprendido corretamente. Quem aprende a dirigir, passa pela etapa inicial de se confundir com os pedais, enquanto passa as marchas e olha pelo retrovisor, e deve ser treinado para executar corretamente tais tarefas de maneira automática, como o taxista que dirige facilmente e ainda conversa com o passageiro.

Prescrever atividades deve considerar os aspectos culturais e morais da sociedade e da pessoa. Treinador de crianças que xinga os palavrões mais cabeludos durante os treinos não é um bom exemplo disso. Devemos fazer a pessoa gostar de atividade física, e não traumatizá-la ou imprimir nela uma marca de incapacidade.

Prescrever atividades deve levar em conta a habilidade de dar o feedback no momento e do modo correto. Deixar as crianças brincarem sem intervenção fará com que elas não saibam quando acertaram, no que erraram, e como corrigir seus erros. Se ocorre um acerto, é preciso saber elogiar e apontar o que foi correto e porque. Se ocorre um erro, é preciso apontá-lo e corrigi-lo, mas não com deboche, descaso ou irritação.

Além disso, a atividade física deve progredir com estas orientações:

  • Do conhecido para o desconhecido;
  • Do fácil para o difícil;
  • Do simples para o complexo;
  • Do geral para o específico;
  • Do individual para o coletivo.

O leitor já se convenceu de que este tipo de trabalho precisa de um preparo profissional? Leia os últimos argumentos.

Há um provérbio que diz:

“Quando você ouve, você esquece
Quando você vê, você entende
Quando você faz, você aprende”

A aprendizagem exige prática, e duas formas comuns de prática de atividade física são o jogo e o exercício.

Por muito tempo, a atividade física (séria) se baseava em exercícios, que embora sejam tecnicamente mais indicados, emocionalmente se tornam menos eficazes. O exercício tende a ser chato, então o nível de atenção do aluno cai, sua execução de movimentos acaba desleixada. Assim, o jogo tem sido estudado como alternativa ao exercício, mas ainda com a barreira de não ser visto como uma atividade séria.

O profissional deve decidir quando usar um exercício e quando usar um jogo, em cada situação.

Vejamos o caso da agilidade. É a capacidade de acelerar, frear e mudar de direção em menor tempo, ou, simplesmente, ser “rápido”. O que é o pique pega senão um jogo de agilidade?

Aliás, quantas pessoas sabem que o pique pega é uma prática que desenvolve a agilidade, não apenas um jogo infantil bobo e sem função?

Uma criança que joga amarelinha, sem saber, desenvolve:

  • o salto;
  • o equilíbrio;
  • a força de membros inferiores;
  • o lançamento preciso de objetos;
  • a noção de espaço.

Cabe ao profissional de Educação Física selecionar uma atividade adequada, como a amarelinha, quando precisar de uma atividade física para desenvolver o equilíbrio, por exemplo!

Há ainda as variações de cada jogo. No caso do bobinho, há várias habilidades e capacidades em jogo, mas principalmente duas: o passe e o desarme. Mas enquanto a maioria dos jogadores praticam o passe, apenas um pratica o desarme. Uma solução para equilibrar este número é mudar regras do jogo, por exemplo, aumentando a quantidade de bobinhos, sem que o jogo perca a diversão.

Há ainda outras técnicas que o profissional de Educação Física pode utilizar na sua prescrição de atividades, como, por exemplo:

  • A racionalização do espaço: os rachões do futebol, treinamentos com 22 jogadores e apenas uma bola, podem dar espaço a jogos reduzidos, dividindo o espaço do campo, onde haverá mais bolas por jogadores e cada jogador passará mais tempo com bola nos pés do que no formato não racionalizado.
  • Circuitos (no caso dos exercícios): ficar muito tempo num mesmo exercício pode ser psicologicamente desgastante. Através de circuitos, a pessoa pode executar um exercício, por curto espaço de tempo, então passar ao próximo, e no final do ciclo retornar ao primeiro exercício. Embora possa não ser fisiologicamente o método mais eficiente, algumas pessoas entediadas com o treinamento irão agradecer por isto.

E há muito ainda que não escrevi neste texto. Ser profissional da Educação Física é apoderar-se dessas técnicas e ferramentas, estudar tudo o que precisa e começar a prescrever exercícios, escolhendo as melhores atividades para as situações que encontrar na vida profissional.

Em quem você confiaria a prescrição de sua atividade física? Ao ex-atleta que largou a escola para ser jogador e não terminou o Ensino fundamental? Ao médico que nunca abriu um livro de aprendizagem motora ou de pedagogia do movimento?

Espero que, após ler este texto, o leitor reconheça a importância desse profissional na sociedade, assim como da sua boa formação acadêmica.

E, para quem quiser se aprofundar:

http://www.eef.ufmg.br/gedam/apresentacao/apresentacao11.pdf

http://www.psicomotricialves.com/UCB/conteudo_ucb_AM.pdf

Miséria da Educação Física

fevereiro 7th, 2012 | 0 comments

Em conversa hoje, com uma colega de escola:

Na minha escola, professores como os de Educação Física, nós usamos como coringas, na hora de montar os horários. É mais fácil mexer com eles, trocá-los de turma… Na escola onde trabalho, os professores só dão futebol e queimado. Então, não importa se eles dão aula para o sexto ou para o nono ano.

Este é o fundo do poço!

Currículo Mínimo 2012

fevereiro 3rd, 2012 | 0 comments

Gostaria de dar meus parabéns ao pessoal que produziu ou colaborou com o Currículo Mínimo de Educação Física, do Estado do Rio de Janeiro.

A versão de rascunho não estava boa. A versão final ficou melhor, abrangendo os conteúdos realmente úteis a educação de cidadãos.

Ainda bem que estamos perdendo a pretensão (inocente) de formar atletas…