Redações e provas orais

abril 30th, 2011 | 0 comments

As pessoas passam mais tempo de vida falando do que escrevendo. Ainda assim, se expressam melhor por escrito do que falando.

Já experimentei fazer provas orais. Nelas, podemos avaliar a comunicação corporal da pessoa, enquanto responde às perguntas. Porém, o nervosismo é maior, o que de certo atrapalha suas respostas. Prova oral é uma situação que gera muita tensão. Tem vantagens mas talvez o números de desvantagens seja ainda maior.

Neste ano, tomei um rumo contrário. Passei uma redação para as turmas de 9º ano e de 1º ano. O desempenho dos alunos foi muito superior nas redações do que nas provas orais. Fiquei muito satisfeito. Pude ver o que os alunos absorveram das aulas, no texto, e também os pontos que eles não souberam desenvolver no texto.

A única desvantagem que vi é que a correção das redações é realmente demorada. Além disso, para corrigir redações é importante que se tenha critérios fixos, para que a avaliação seja mesmo justa, o que não é tão simples como corrigir com um gabarito.

O assunto do 9º ano foi: “Esporte: o que faz de bom e o que faz de mau, para a saúde e para o convívio social”. O assunto do 1º ano foi: “As relações entre atividade física, aptidão física, saúde, estilo de vida e qualidade de vida”. O resultado foi satisfatório.

Recomendo o uso das redações!

Modelos de questões de prova 1

abril 30th, 2011 | 0 comments

As questões de uma prova determinam se a avaliação será ou não bem realizada.

Participei de um simuladão. Todas as questões deveriam ter opções de resposta A, B, C e D. Sempre senti que esse tipo de questão é dos piores tipos. Num cálculo simples, a chance de um aluno chutar e acertar cada questão fica em 25%. Tem que haver algum modelo melhor de questões de prova!

Em busca de algo melhor, cheguei ao velho Verdadeiro ou falso. O defeito dele é que a chance de chutar e acertar é de 50%. Mas, e se cada questão tiver quatro sentenças a serem marcadas? Para as quatro corretas, 1,0 ponto, e para três corretas, 0,5 ponto.

Este tipo de questão é muito parecido com aquele de quatro alternativas, do simuladão, onde se tem que marcar a correta (ou a falsa), que é o tipo mais tradicional. Mas há duas vantagens neste novo modelo, ainda sem nome:

  1. Enquanto o tipo tradicional permite 25% de chance de acerto para os chutes, este novo tipo de Verdadeiro e falso permite apenas 12,5% para 0,5 ponto e 6,25% de chances para 1,0 ponto. Ou seja, praticamente inviabiliza que se ganhe pontos no chute.
  2. Nas questões tradicionais, como o aluno sabe que apenas uma sentença está correta, ele vai em busca dela e ignora a análise das outras sentenças (se uma está correta, obviamente as outras estão erradas). Assim, cada questão costuma trazer um assunto estudado, sem poder se aprofundar nos seus detalhes. Neste novo tipo de Verdadeiro e falso, o aluno precisará ater-se a cada uma das sentenças, já que seus resultados são independentes, umas das outras. Isso permitirá explorar melhor muitos detalhes dos conteúdos ensinados, até mesmo criar questões com mais de um dos assuntos estudados, o que irá enriquecer a avaliação.

Creio ter chegado a um ótimo tipo de questão de prova. A possibilidade de uma mesma questão poder gerar pontuações diferentes oferece maior flexibilidade, além da praticidade de poder explorar melhor os conteúdos ensinados, reduzindo o tamanho da prova.

Proponho uma experiência com este modelo.

O tal do PDCA

abril 30th, 2011 | 0 comments

PDCA nada mais é que um esclarecimento sobre o passo a passo de ações de um administrador. E o professor é também um administrador.

Para que não se torne uma espécie de mantra, é interessante deixar a sigla de lado e se concentrar nestes quatro passos em português: Planejar, Executar, Avaliar e Corrigir. Administrar a aprendizagem dos alunos, desconsiderando estes passos, nos subtrai a capacidade de extrair o máximo da educação escolar.

PLANEJAR

O plano de curso diz como seguir para atingir os objetivos: qual será nosso passo-a-passo, qual conteúdo utilizaremos, quando e como avaliaremos, e como recuperaremos o que não foi bem aprendido.

Me preocupa quando vejo que ainda hoje se chega ao segundo bimestre sem que alguns professores tenham feito seus planejamentos. Alguns, apenas seguem o livro. Outros, de matérias sem livros, muitas vezes inventam suas aulas em cima da hora.

EXECUTAR

Tendo um plano de ação pronto, é hora de ir para as aulas e ajudar os alunos a aprender os conteúdos. Os recursos materiais podem ser decisivos e toda tecnologia nova, se incorporada, pode fazer a diferença. Mas nem todos os alunos vão à escola por amor ao conhecimento e haverá problemas de mau comportamento ou falta de atenção à aula. Quanto a isto, defendo que a escola aprenda a mudar o foco, dos exercícios para os jogos, que possuem maior potencial para atrair a atenção e o interesse dos alunos.

Há ainda muito o que se discutir, neste blog, sobre a evolução da execução das aulas, como perguntar mais e afirmar menos, contar histórias, resolver problemas da vida cotidiana, entre outras coisas normalmente deixadas de lado, na educação.

AVALIAR

Esqueçamos esta coisa de avaliação formativa, normativa… Vamos deixar de lado os nomes e compreender o conceito fundamental.

Se um piloto de avião precisa voar até o ponto A, e deixa para verificar se ele atingiu o destino correto somente ao final do vôo, qual será sua reação se ele descobrir que, na verdade, voou até o ponto B, por engano? Pois é assim que a escola costuma avaliar o aluno: ao final do processo, já sem tempo para corrigir o que precisa ser corrigido. É preciso avaliar a todo momento, para se certificar de que se está seguindo na rota correta.

Avaliar não é punir. A avaliação não é um castigo nem deve ser utilizado para ameaçar os alunos. Este não é o papel da avaliação (é como usar notas de dinheiro para se fazer rabióla de pipa). A avaliação é feita para descobrirmos quais conteúdos os alunos aprenderam melhor e quais não aprenderam bem. E precisamos mesmo nos preocupar em descobrir onde os alunos ainda tem dificuldade! Não se deve virar as costas para isto.

CORRIGIR

De que adianta avaliar e descobrir o que os alunos não aprenderam suficientemente, se o professor não tem a intenção de corrigir, de dar um reforço ou explicar novamente? Deve ser objetivo da avaliação escolar preparar o espaço para uma recuperação.

No processo de ensino, o que não deu certo deve ser corrigido. A recuperação se propõe a ser um processo de correção, porém, parece que a escola entende a recuperação com uma prova, uma avaliação. Uma prova de recuperação deveria ter outro nome, pois prova e recuperação pertencem a categorias diferentes. A prova de recuperação não recupera o aluno. Se ele estuda para a prova, poderá se recuperar, mas não adequadamente, em poucos dias, sem auxílio do professor. A prova, em si, oferece apenas mais uma chance de ganhar pontos.

Uma recuperação paralela seria ideal. O que não ficou bem aprendido num bimestre, continuará sendo desenvolvido no próximo por aqueles alunos que necessitam. Porém, os professores já não conseguem dividir as velocidades de ensino quando há alunos com necessidades especiais na escola, como conseguiriam ensinar conteúdos de dois bimestres, para uma mesma turma, no mesmo bimestre? Parece muito grande o desafio de desenvolver esta habilidade mas será importantíssimo não fugir dele.

Já ouvi professores se recusando a aplicar recuperações paralelas. Ora, então houve avaliação sem correção! Será o mesmo que dizer ao aluno: “Se não aprendeu, se vire! Já era!”, quando poderia ser “Se não aprendeu, vamos estudar de novo!”.

Espero que esse texto tenha esclarecido o PDCA (espero não falar mais dele) e que os professores não o leiam na defensiva, pois precisamos pensar nos nossos erros e não desistir de buscar evoluir nossa ação pedagógica. Sei que eu ainda preciso melhorar minha atuação nos quatro pontos, pois eu também estou mergulhado na cultura educacional tradicional até o pescoço. A cada ano podemos melhorar, incluir novos truques, abandonar velhas práticas ultrapassadas. Só depende de vontade para que isto aconteça.

Por que estudar estratégia?

abril 10th, 2011 | 1 comment

Facilmente, professores de outras matérias escolares podem achar que, na Educação Física, o aluno deixa o cérebro na sala de aula e leva apenas o corpo muscular para a quadra.

Por mais que possa parecer verdade, não é! Quem joga e se diverte tentando superar o desafio que o jogo lhe oferece, tem a opção de pensar sobre as características do jogo, descobrir suas manhas, usar sua inteligência para aumentar suas chances de vitória. Jogar com estratégia é jogar com um plano de ações escolhido, que supostamente dará vantagem ao jogador na sua busca pela vitória.

Um estudo sobre estratégia poderia ter uma infinidade de aplicações e exemplos, não só dentro do movimento humano, como também na vida amorosa, social e financeira. Porém, seus tópicos principais são simples. São coisas como: “evite o adversário onde ele é forte; ataque-o onde ele tem mais dificuldade para defender“, “conheça os pontos fortes e fracos do adversário, e também os teus“, “selecione os jogadores certos para as funções certas“, “Atrapalhe o adversário, o desconcentre, o canse“, “Leve o adversário a se espalhar, enquanto você se concentra“, “busque meios de obter superioridade numérica“, “economize sua energia, jogando com inteligência“, etc.

Uma vez perguntei à turma por que, no queimado, eles fazem o “joguinho” (entre quem está no cemitério e quem está na quadra), e uma menina disse que faziam porque “era legal”. Vejo que eles não pensam ainda estrategicamente, não pensam em cansar o adversário para queimá-lo mais facilmente.

Acho que deve ser dever da Educação Física levá-los a dar um passo a frente neste sentido. E nada de muito sofisticado é preciso: jogos como queimado, pique bandeira e pique ajuda com bola estão repletos de possibilidades estratégicas a serem pensadas e construídas.

O fim do futebol brasileiro supremo

abril 10th, 2011 | 0 comments

Quero fazer uma previsão do futuro: o futebol brasileiro campeão, como o conhecemos, irá acabar. Vou expor meus argumentos:

Quem ensina o brasileiro a jogar futebol não é o clube, é a rua. É a bola na rua, nos campos espalhados pelos bairros. Porém, cada vez mais nas ruas passam carros, ônibus, impedindo a bola de rolar. A violência urbana na mídia e a evolução eletrônica, das TVs aos games, prendem mais as crianças em casa do que antes, e a bola na rua rola cada vez menos. Já os campos de várzea estão dando lugares a casas populares, empreendimentos comerciais, shoppings, serviços de saúde, e já não irão mais ter bola rolando daqui para a frente.

Os clubes estão muito preocupados com a faixa dos 16 anos de idade, quando se pode prender um jogador a um contrato. Quem o ensina a chutar a bola, a dar os primeiros dribles? Isto não parece interessar aos clubes. Acho mais fácil encontrar equipes e torneios Sub-15 e Sub-17, atualmente . Vejo os clubes sem a preocupação de ensinar, apenas a de selecionar. Vejo times Sub-17 quase inteiros sendo desfeitos entre setembro e novembro, e refeitos novamente no começo do ano seguinte.

As idades de Sub-13 para baixo costumam ser aproveitadas por amantes do futebol, gente que costuma trabalhar de graça ou ganhando muito pouco dinheiro,  apenas por prazer, ou ainda por pedófilos que, secretamente, procuram estar próximos dessas crianças, gerando vários casos de pedofilia pouco ou muito divulgados, alguns dos quais chegam aos meus ouvidos.

Os clubes não trabalham com currículos organizado por idades. Os técnicos não criam uma lista das habilidades técnicas e táticas que seus jogadores precisam aprender em cada idade. E creio que apenas em clubes maiores dos que eu tive contato devem ter preparadores físicos bem formados, que sabe diferenciar um treinamento físico para Sub-15 de um para Sub-20.

Como os jogadores em formação Sub-13 facilmente encontram locais para treinar onde não se cobra nada, dificilmente uma Escola de Futebol conseguirá reunir bons profissionais e pedagogos do esporte num trabalho organizado de aprendizagem do futebol, cobrando uma mensalidade dos alunos que pague seus salários e suas despesas.

E como os clubes possuem uma preferência ENORME por ex-jogadores, treinadores que já possuam “nome” ou o bolso cheio de dinheiro, este mercado continuará fechado para quem estudou para ser professor de futebol, e desestimulará os formados em Educação Física a se pós-graduarem em futebol. Assim, no futuro, continuaremos vendo ex-jogadores que não terminaram o ensino fundamental pegando turmas de crianças para prescrever atividade física de aprendizagem esportivas para elas, não importando mais as diferenças entre o saber jogar e o saber ensinar a jogar.

Os poucos campos que ainda existem pelos bairros já possuem algum vereador ou outro político tomando conta, ou algum dono de terreno tentando fazê-lo parecer produtivo ou ocupado, e neles já há uma fila de ex-jogadores, alguns que nem chegaram a profissionais, ou amantes do futebol que já estão com suas equipes trabalhando nos campos, mas raramente alguém formado, que tenha um roteiro do que deve ensinar, que saiba com qual método ensinar, que queira planejar e que saiba por que deve avaliar seu ensino.

Às vezes recebo notícias de que o país X e o país Y estão investindo pesado nas categorias de base do futebol, e penso em como estas categorias estão desperdiçadas, no Brasil. Vêm notícias de Estados Unidos, Japão, Austrália e Nova Zelândia, recentemente o Uruguai… E nós, jogados à própria sorte.

Lembro de uma vez em que trabalhei num clube e sugeri ao diretor que adotássemos uma padrão de avaliação física periódica, para medir o quanto nosso treinamento físico estava dando resultados, me prontifiquei a montar a avaliação, e ele riu para mim e disse: “Não precisa disso, não! A gente vê daqui qual atleta não está rendendo…”.

Para mim, é impossível ver futuro assim.

O tal do Feedback

abril 10th, 2011 | 0 comments

Acho incrível como um dos fundamentos mais importantes do “ser professor” é tão deixado de lado.

Digamos que neste mundo atual, onde o cliente se informa pela internet sobre seu produto e o paciente sobre sua doença, o médico e o vendedor podem ser descartados. Esta afirmação parece absurda, mas é claro: o meio eletrônico não pode substituir totalmente a via humana.

Um aluno pode estudar o quanto quiser por livros, aprender de antemão o que o professor irá ensinar, chegar ao momento da aula já previamente informado. Porém, livros e internet não podem avaliar seu leitor, não pode corrigi-lo ou dizer: “Você está indo bem nisto e naquilo, só precisa melhorar um pouco neste e naquele ponto”.

Isto se chama Feedback, um termo presente em Aprendizagem Motora na universidade. Ela é a resposta que o professor dá ao seu aluno, após avaliá-lo, dizendo-lhe o que foi correto, o que precisa ser melhorado, e como melhorá-lo. O Feedback ratifica ou retifica a ação do aluno; é algo entre o “C” e o “A” do PDCA.

O Feedback é o momento da tomada de consciência do aluno sobre seu desempenho. De que adianta o aluno estudar durante 8 semanas e, ao ser avaliado, receber um papel com uma nota entre zero e dez, e sair deste processo sem que o professor lhe indique onde ele acertou, onde ele errou e como pode corrigir o que errou? Esta educação sem feedbacks não dá à sociedade os frutos que desejamos. E somente profissionais, humanos, são os que podem dar os feedbacks positivos e negativos, nos momentos adequados e de maneira apropriada, a cada aluno, cliente ou paciente em específico.

Professores, não se deixem perder de vista este importante conceito!

 

Antes do fim: costumo ter implicância com palavras estrangeiras, pelo esforço que elas fazem para esconder seu significado. Gostaria que pudéssemos adotar um termo em português em lugar de Feedback. O mais próximo que eu cheguei é o termo Validação, utilizado neste artigo de Stephen Kanitz, cuja leitura eu certamente recomendo.